Antonio Mário Bastos
Juras de Amor
Atualizado: 13 de out.
Era um 8 de dezembro. Festa da Padroeira da comunidade.
No meio da praça tinha um coreto - não tinha a pedra de Drummond - onde casais se encontravam para alguns amassos e declarações de amor eterno.
Biano encontra Zumira, por acaso, no adro da Igreja Matriz e lhe dá um leve sinal com aquele manjado olhar pidão.
Eles seguem, lado a lado, sem mãos dadas, em direção ao coreto.
Era a oportunidade perfeita de falarem de amor, mesmo que no meio de e entre muitos outros enamorados.

Um xêro no cangote, um abracinho despretensioso; um larga e arrocha, um abraço mais demorado, uma carícia mais íntima, tudo nos conformes de dois pombinhos apaixonados.
Promessas de amor, de fidelidade, de felicidade, de castidade (ambos), até mesmo de viverem para sempre "até que a morte os separe" - bordão clássico do vigário do lugar.
Missa festiva terminada. Igreja fechada para dar início à quermesse e leilões.
Fiéis voltando pros seus ranchos, meninos chorando, velhos cansados, beatas rezando, malandros cantando, banda de pífanos tocando, todos focados nos seus objetivos.
Lá pelas tantas, o sol escondido, a lua querendo aparecer, formigueiro de gente pra lá e pra cá, Zumira livra-se, de inopino, do abraço arrochado de Biano e candidamente lhe põe uma pergunta que a resposta seria balizadora do dali pra frente:
- Biano, meu fio, tu gosta d'eu?!
- Oxente Zumira, minha nega, tá se gosto!
E Zumira, meio que desconfiada do gostar de Biano, responde na lata:
- Tó, tu gosta é bufa!
Não se tem notícias se Biano e Zumira perfizeram o caminho do amor ensaiado naquela noite festiva. Mas que ela foi extremamente sincera foi.
Fotografias associadas: obtidas do acervo de José Oliveira